Museu Vivo na Cidade empresta figurinos o espetáculo "Búzios: A Conspiração dos Alfaiates"


por Anderson Moreira







“Com direção de Paulo Dourado, o espetáculo Búzios: A Conspiração dos Alfaiates irá encenar na Concha Acústica do Teatro Castro Alves a saga de um dos raros e mais significativos levantes realmente populares da História do Brasil, será. O espetáculo que integra o projeto Teatro Popular Contemporâneo e tem patrocínio da Oi, através do Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados 2011. O ingresso deverá ser trocado por 2 kg de alimentos na bilheteria do Teatro Castro Alves. A temporada acontece de 09 a 13 de novembro, sempre às 19h, com duração de 1 hora e 30 minutos”. (http://www.tca.ba.gov.br/11/1111/Buzios.htm).

Talvez o público não saiba, mas os figurinos utilizados pelos atores que interpretaram a Rainha D. Maria, o Governador da Bahia e os soldados pertencem ao  Museu Vivo na Cidade. Durante cinco anos foram utilizados nos espetáculos épicos produzidos no Museu do Forte São Marcelo. Infelizmente, na noite da estréia, não foi mencionado o apoio da ABRAF e nem do Museu Vivo na Cidade.

O museólogo Anderson Moreira e o músico Thauan Martins estiveram presentes na estréia no dia 09 de novembro, na Concha Acústica do TCA. Com direção de Paulo Dourado e texto de Aninha Franco e Cleise Mendes, a peça teve como objetivo mostrar o episódio do “Levante dos Alfaiates” que aconteceu na cidade do Salvador no ano de 1798. Os atores estão de parabéns, assim como a trilha sonora e os efeitos do espetáculo. Entretanto o roteiro deixou a desejar no que se refere à pesquisa Histórica. Logo no início, Tiradentes aparece sendo retratado como herói nacional (aquela velha história que ensinam às crianças no primário), de barba e cabelos grandes. Para quem não sabe, o Sr. Joaquim José da Silva Xavier era alferes. Ele não tinha barba e nem cabelos longos. A “Inconfidência Mineira” não teve como objetivo a separação do Brasil de Portugal, mas sim da província de Minas Gerais. Os filhos dos poderosos mineiros planejaram o levante do qual separariam Minas de Portugal, mantendo a mesma estrutura de poder. Não se falou ou se pensou em acabar com a escravidão. Tiradentes não era filho de nenhum poderoso. Ele, inclusive, chegava a pagar pelas traduções dos textos- que eram escritos em francês- do movimento. Como ele não era filho de nenhum senhor poderoso, foi utilizado como bode expiatório. Os demais não tiveram o mesmo destino, foram degredados e posteriormente perdoados.



Outro erro do roteiro foi em relação à Rainha Maria I. Quem estava a governar, em seu lugar na época do Levante dos Alfaiates, era o filho dela – o Príncipe Regente D. João (depois D. João VI, futuro Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves). A rainha estava em depressão devido às perdas do marido e em seguida a do filho primogênito. Ela passou a ser conhecida como “a louca”. O espetáculo mostrou D. Maria I como uma tirana fanática pelo poder e com ódio em relação aos negros. Teve uma cena em que ela aparece em uma posição alta, sendo trazida pelos lacaios. Os atores entram na mesma cena com tochas e vestidos da mesma forma que os membros da “Ku Klux  Klan”. Para algum historiador presente talvez lembre a “procissão do fogaréu”, mas logo entra um ator com uma cruz pegando fogo.




Durante o espetáculo os espectadores ouviram muitos os atores falarem em liberdade para a Pátria e libertação do Brasil. Os conceitos de pátria e Brasil que temos hoje não existiam no século XVIII. Não existia uma identidade nacional. As províncias não se reportavam entre si e sim com a Coroa. Não existia a Nação brasileira. Os nascidos no Brasil eram tidos como cidadãos portugueses. O termo brasileiro era empregado para os comerciantes e traficantes de pau-brasil.

Outra falha foi colocar os atores que estavam interpretando escravos com os pés calçados. Apenas os negros libertos tinham esse privilégio.

Concluindo, espetáculos com temas épicos devem acontecer mais vezes para aguçar a curiosidade do povo brasileiro pela Memória Nacional. Que outras peças sejam montadas para contar a nossa história, mas que se tenha cuidado com a História!







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