ALMA GUERREIRA




8 de março, dia internacional da mulher. Data em que se homenageia este ser especial que nos acompanha em nossas vidas desde o princípio. Somos oriundos do seu ventre. Não podendo falar de todas elas, vamos destacar a figura de uma mulher guerreira que pontuou a história nacional com atos de bravura indômita, marcando, profundamente, a vitória dos nacionais, MARIA QUITÉRIA, heroína das lutas da Independência na Bahia nos anos de 1822 e 1823. 

Nasceu no sítio Licorizeiro, em São José das Itapororocas, no município de Cachoeira. Viveu os primeiros tempos no ambiente rural, em contato com a natureza, andando pelos campos, caçando e manejando armas de fogo com grande habilidade, o que, mais tarde, vai ser bastante útil na atividade militar. 

Quando o Governo começou a recrutar voluntários para a causa da independência e emissários chegaram à casa de Gonçalo Alves de Almeida, seu pai, lamentou que seu filho, ainda criança, não pudesse alistar-se em defesa do país. Maria Quitéria, que escutou a conversa, declarou-se interessada, o pai, no entanto, negou-lhe o consentimento. 

Fugiu de casa e pediu o apoio da irmã Tereza, que emprestou roupas do marido e providenciou o corte do cabelo. O cunhado a acompanha até a cidade de Cachoeira onde os batalhões estavam sendo formados. O seu batismo de fogo se deu em combates na Pituba, sob o comando de Felisberto Gomes Caldeira. Combateu em Itapuã em fevereiro de 1823, quando atacou, sozinha, uma trincheira inimiga e fez prisioneiros. 

É na barra do Paraguaçu, em abril daquele mesmo ano que, sob o comando do capitão Viccto José Topázio, mostra a sua bravura ao avançar com água até os seios em direção a uma barca inimiga, impedindo o desembarque dos adversários. 


Monumento à Maria Quitéria - Salvador-Ba.
Foto: Google
"Eu gostaria de entrar nua no rio, caso estivesse no sítio do meu pai. Mas estou aqui entre homens, somos todos soldados, e o banho no Paraguaçu é forçado. Os portugueses de uma canhoneira bombardearam Cachoeira, então um bando de Periquitos, e entre eles eu e mais cinco ou seis mulheres, entramos no rio, de culote, bota e perneira, dólmen abotoado e baioneta calada". - Maria Quitéria



Finda a guerra com a retirada das tropas do General Madeira de Melo, seguiu para o Rio de Janeiro para ser homenageada pelo Imperador D. Pedro I, que lhe conferiu o grau de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro e a concessão do soldo de Alferes de Linha. Voltando à sua terra natal, entrega ao seu pai a carta que lhe enviara o Imperador, ao tempo em que, pede perdão pela sua desobediência. 

Contrai matrimônio com Gabriel Pereira de Brito, lavrador do rio do Peixe e passa a viver anonimamente, vindo a falecer no dia 21 de agosto de 1853, no distrito de Santana, deixando uma única filha, Luísa Maria da Conceição. 


Foto: Google
Integra o pantheon da História como heroína da Independência do Brasil e Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro, de acordo com o Decreto Presidencial de 28 de junho de 1996. Existe uma medalha militar com o seu nome e uma comenda da Câmara Municipal do Salvador. Há, ainda, uma determinação Ministerial para que seu retrato figure em todos os quartéis e repartições militares. 

Quando do Recebimento da medalha das mãos do Imperador, assim registrou no seu diário o soldado Medeiros:

AH, EU MORRO DE VERGONHA! 

Nunca pensei em pisar num palácio. Quitéria, eu disse a mim mesma, foste criada para andar de pés nus e cabelos ao vento. Quitéria, és uma tabaroa. E no entanto, o que fizeram de mim? Ou melhor, o que a vida fez de mim? Nunca pensei que, ao pegar em armas, ao entrar naquela guerra do Recôncavo, eu acabaria aqui, hoje, nesta recepção palaciana. O Imperador vai entrar. 

Palácio Imperial de São Cristóvão - Rio de Janeiro - RJ


É ele, é ele. Altaneiro no porte, com aquelas dragonas douradas, o dólmen justo salientando o peito, a barba negra. A gente conhece logo um Imperador pela barba e, também, pelo jeito direto e franco de olhar. Um olhar sem medo, um olhar dentro dos olhos-olhar de quem tudo ousa, de quem sabe que tudo pode. Cavalheiro distinto, garboso e galante, o Imperador. Irritou-se com as exigências de seus compatriotas, reunidos num conselho chamado Cortes, e, a cavalo, soltou o grito. 


D. Pedro I - Imperador do Brasil


Foi fácil, aqui no Rio de Janeiro e em São Paulo, porque havia um José Bonifácio, havia outros antigos conspiradores em prol da Independência. Pois D. João VI não havia previsto, não havia aconselhado: “Pedro, algum dia o Brasil se separará de Portugal. Se assim for, põe a coroa sobre tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela”. 

Entra o Imperador no salão espelhante, cheio de cadeiras e canapés forrados de veludo verde e vermelho. Um luxo. Faianças, cristais, candelabros, pesados reposteiros. Deve ser bom viver aqui nestes luxos, mas prefiro os meus matos, os campos rasos da minha terra. Estou atordoada, com uma zoeira nos ouvidos, mal entendo o que diz em discurso o nosso comandante. Ouço palavras soltas: “heroína”, “mulher valente”, “amor à Pátria nascente”. 

“Agüenta, Quitéria”, eu digo aos botões da minha túnica. “Tu não és soldado, mulher?” Abro os olhos, o Imperador está diante de mim, curva-se e sorri. Tenho vontade de passar a mão naquela barba negra que parece seda. Mas a minha palma é calosa, com certeza o Imperador retrocederá assustado — e me prendem. Fecho de novo os olhos. O Imperador me condecora, um sujeito de roupa espalhafatosa lê um papel em que me concedem um soldo para o resto dos meus dias. 

A Pátria agradece, mas, francamente, eu não pensava em recompensas. Os dedos do Imperador D. Pedro tocam-me a gola, roçam-me o busto. Ah, eu morro de vergonha. Quem diria que eu, Quitéria, donzela criada quase solta pelos campos, com os animais, seria alvo de tantos olhares neste palácio do Campo de São Cristóvão? As damas de saia arrastando no chão só faltam me comer com os olhos. Tenho o rosto em fogo, as orelhas ardem. Será que vou dar chilique em público?” 

Imperador me põe a condecoração. Tremo toda. Ele entende o que se passa comigo e sorri. 

- Parabéns. A senhora é uma heroína. A Pátria lhe será eterna devedora. 

- Cumpri apenas meu dever de brasileira - consigo balbuciar em resposta. 

O Imperador curva-se e vai retroceder. Faço-lhe um gesto. O homem poderoso se detém. 

- Posso ser-lhe útil em algo mais, senhora? 

- Quero pedir-lhe um obséquio, um grande obséquio... 

- Queira dizer-m’o. 

- Quero que o senhor peça perdão, por mim, ao meu velho pai. 

- E por que motivo? - indaga o Imperador. 

- Porque fui-lhe desobediente, fugi de casa para entrar na guerra - eu lhe digo, toda ruborizada. 

O Imperador sorri de leve. 

- Está perdoada. Farei o senhor seu pai sabedor do meu perdão. 

O Imperador levanta a mão sobre a minha pessoa, em sinal de bênção.


Série "Construtores do Brasil": Maria Quitéria - TV Câmara




Foto do perfil de Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos



Anésio Ferreira Leite é militar,
administrador de empresas e 
Diretor Presidente da ABRAF
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